Jornal « Setúbal na Rede» - 08/07/2004
300 hectares é o balanço da área ardida
O incêndio em Vale de Barris consumiu 300 hectares do Parque Natural da Arrábida (PNA). A presidente da Câmara de Palmela, Ana Teresa Vicente, adianta que amanhã são divulgados os números oficiais, sobre os prejuízos materiais e naturais e que as causas estão por apurar.
Nuno Banza, da Quercus critica o atraso no Plano de Ordenamento do Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e a actuação da directora do PNA, já que nunca se deslocou ao cenário de incêndio. No local continuam as operações de rescaldo, confirma ao Setúbal na Rede, o coordenador da Protecção Civil de Setúbal, José Luís Bucho.
Os bombeiros fizeram tudo o que estava ao seu alcance, mas não conseguiram evitar pequenos prejuízos em casas como, por exemplo, muros caídos.
Ana Teresa Vicente considera que não é hora de falar no apoio a estes danos materiais.
O presidente da Câmara de Setúbal, Carlos de Sousa, defende que os concelhos de Palmela e Setúbal não devem recear consequências económicas ou turísticas. Pela experiência que se adquiriu noutros fogos, sabe-se que ao fim de cinco anos a flora da Arrábida auto regenera-se.
A vigilância não falhou, mas o vento forte dificultou muito o combate às chamas.
Apesar desta circunstância, a Quercus considera que a prevenção do incêndio podia ser facilitada com o Plano de Ordenamento do ICN, elaborado em Fevereiro de 2003. A consulta pública terminou há um ano contudo, o plano ainda não saiu, o que prejudica a sua correcta aplicação. Os planos param, mas a realidade continua a evoluir. Quando são postos em prática já não se adequam às circunstâncias.
De acordo com a última proposta desse plano, as áreas ardidas estão classificadas como Protecção Parcial I e II e Protecção Complementar I. Isto corresponde, depois da Protecção Total, aos mais altos estatutos de protecção do património natural, o que demonstra a dimensão das perdas ambientais. Os 300 hectares de área ardida, não mostram a extensão desta calamidade, já que uma área maior pode ter sido afectada, pelo facto de este valor corresponder a uma área ardida dispersa.
Os ambientalistas criticam a actuação da directora do PNA, Madalena Sampaio, pois esta não foi ao terreno e assim não deu as indicações sobre as regras específicas do parque. A Quercus suspeita que o parque não vai fazer contratação adicional para desdobrar as patrulhas de vigilância, o que é um erro. A nível nacional, os critérios de avaliação de risco de incêndio devem incluir o valor natural.
Por isso, em termos de meios disponíveis, a Arrábida continua a não ser considerada uma zona de risco.
Nuno Banza lembra ainda que está em curso o processo de preparação da candidatura da Arrábida a Património Mundial Natural da Humanidade.
Apesar de não incluir a área ardida como área principal, esta deve funcionar como zona tampão. Por isso, é necessário conservar e melhorar em termos de valores naturais e paisagísticos.
O Setúbal na Rede tentou contactar o coordenador do Centro de Coordenação Operacional de Bombeiros e Protecção Civil do Distrito de Setúbal, Alcino Marques para fazer o balanço do incêndio. Por se encontrar a fazer vistorias no terreno, o coordenador não pode prestar esclarecimentos.
Também voltámos a tentar contactar a directora do PNA, Madalena Sampaio mas até agora não obtivemos resposta.
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Carla oliveira Esteves
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