-Poetisa portuguesa - Natália Correia nasceu na ilha de São Miguel, Açores, em 13/09/1923 e morreu em Lisboa em 16/03/1993.
Dais maiores escritoras do Sec. XX em Portugal, Natália Correia foi a mais controversa.
Muito ligada à sua terra, distinguiu-se cedo pela sua poesia irreverente e apaixonada, na linha do surrealismo.
Figura proeminente da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou-se como poetisa e como política.
Foi fundadora da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos da mulher.
Apelou sempre à literatura como forma de intervenção na sociedade, tendo tido um papel activo na oposição ao Estado Novo.
Estatura bem constituída, traços fortes, olhos grandes, a sua imagem característica era o cabelo penteado em "banana" e fumando de boquilha.
Interveniente, irreverente, inteligente, tinha uma presença marcante.
Ao contrário de Florbela Espanca, não escreve em submissão ao amor homem-mulher socialmente correcto.
4 Casamentos, balzaquiana, noctívaga, personalidade muito forte.
Não deixava de fazer o que lhe dava prazer, não deixava nada por dizer:
"chamava os nomes às coisas".
Natália Correia foi muito conhecida pela sua poesia e pela truculência das suas intervenções na sociedade portuguesa, antes e depois da instauração da democracia.
Na Assembleia da República ora intervinha nos debates políticos de modo frontal ora respondia com poemas.
Resposta a Mário Cesariny:
VERDADEIRA LITANIA PARA OS TEMPOS DA REVOLUÇÃO
"Burgueses somos nós todos ó literatos
Burgueses somos nós todos ratos e gatos"
(Mário Cesariny)
Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo
nuvens! O que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que nós somos todos é sebastianistas.
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Natália Correia
Com Isabel Meyrelles cria o Botequim (local de encontro, convívio e tertúlia, onde nasciam ideias culturais efervescentes).
Foi uma figura importante das tertúlias que reuniam nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas dos anos 50 e 60. Ficou conhecida pela sua personalidade vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita.
Em vésperas de Natal de 1969, Natália brilhou numa noite que ficou célebre em casa de Amália Rodrigues, em Lisboa. Estava lá Vinícius de Moraes, que declamou poesia sua e cantou Saudades do Brasil em Portugal.
Ficou tudo gravado.
Há 3 anos foi editado o duplo-álbum "Amália e Vinícius", gravado ao vivo nessa noite em casa de Amália Rodrigues, composto por fados interpretados por Amália, à guitarra e à viola, e poemas declamados por Vinicius, por Natália Correia, José Carlos Ary dos Santos, e David Mourão-Ferreira.
Um serão que fez História!
Natália Correia organizou antologias e foi Assessora do Secretário de Estado da Cultura.
Foi Directora Literária e colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras.
A sua obra está traduzida em várias línguas.
AUTO-RETRATO
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
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Natália Correia