Passados 8 anos, o panorama é igual, infelizmente.
Resposta 1
Querida Laura....
Vou responder-lhe, querida amiga Jacqueline:
De tão estarrecidos com as imagens da TV, olhos esbugalhados e corações alanceados pelas dores que são de todos os portugueses, estes acontecimentos em Portugal deixaram toda a gente espavorida.
Agora temos a certeza daquilo que já desconfiávamos mas recusávamos falar e pensar, na vã esperança de que Deus sempre estivesse do n/lado a continuasse a tratar-nos como o ditado que diz: «ao menino e ao borracho, põe-lhe Deus a mão por baixo».
É verdade, desconfiávamos que no dia em que houvesse uma catástrofe, este país seria um caos de tão mal preparado que se encontra seja para o que for.
Aqui está: um caos, uma inoperância e incúria dos dirigentes.
Trazemos culpas e erros do passado, sim. Mas com o presente é que temos que contar.
Em cima do fogaréu que se agigantava imensurável, ainda o primeiro ministro dizia na TV que o caso era preocupante mas não alarmante.
Quanto a mim, a prioridade deste país, com base em anos anteriores era, obviamente, a investigação apurada e a caça aos malditos incendiários.
Interessante que eu tenho esta resposta aqui guardada, meia escrita, desde o dia em que vc a mandou,mas já com estas frases anteriores.
Hoje, alguém disse na TV que das 58 pessoas já presas, acusadas de fogo posto, muitas já estavam presas faz algum tempo. E que isso deveria ter sido comunicado aos órgãos de informação. Porquê? Porque a prisão já seria um motivo dissuasor. Agora se ninguém diz nada, até aprece que ninguém se importa e eles continuam a incendiar tudo, pensando ficar impunes.
E olha que eu nem sou ninguém importante para ver isto, mas tenho olhos e cabeça.
Ano após ano, Portugal arde sistematicamente e apenas se houve falar no trabalho da limpeza de mata e florestas que não foi feito. O próprio Estado também não o faz nos seus terrenos.
Sempre ouvi dizer que o exemplo vem de cima e não de baixo.
Como exigir aos outros aquilo que não se faz como exemplo?
Este ano fez-se um escarcéu sobre a pedofilia que deixou o país farto de tantas notícias e atoardas.
Era um caso tão antigo e com tantas ramificações... sempre foi encoberto e cavalgou a toda a sela até aos dias d'hoje.
Mas Portugal não precisa de chavões e primeiras páginas, mas de lógica e acerto nas prioridades.
Os meios de comunicação são óptimos para os governantes usarem.
Falem ao povo, ao país, que diabo! Falem connosco!
Não somos burros, creiam. Não somos piores que os outros povos.
Temos, talvez, menos informação por parte das entidades governamentais.
Nos v/lares e vidas particulares, gostariam de estar à margem dos problemas familiares?
De não lhes ser pedida colaboração e diálogo?
Pois é. No caso da governação dum país também assim é.
Não queremos ser esquecidos.
Queremos saber de tudo.
Queremos que falem connosco.
Queremos estar informados, activos e participantes, como portugueses, neste nosso lar que é Portugal.
Creiam senhores governantes que a n/ajuda será preciosa, se no-la pedirem.
Queremos ajudar e saber das v/ideias. Queremos entendê-los e comparticipar.
Só é possível pedir sacrifícios a um povo quando esse mesmo povo sabe a que se destina mais um sacrifício.
Sacrifício não deve ser imposto, mas pedido como colaboração e necessidade momentânea.
(Esta mensagem foi enviada por mim para as Comunidades portuguesas onde foram repassados os meus poemas dos fogos em Portugal.)
Querida amiga Jacqueline,
Resposta 2
Hoje vi as notícias, e chorei.Tem gente que perdeu tudo que tinha juntado na vida e é gente já depois dos 50 anos. Vão recomeçar partindo de quê?
Um homem de 54 anos tinha uma quintinha com 2 dúzias de vacas leiteiras.
Daí vivia, do que elas davam de leite. Elas tinham nome: a Margarida, a Baixinha,a Graciosa, etc. Ele contou que começou a ouvir um enorme estrondo que nem soube explicar bem e de repente, saiu de casa e viu uma enorme parede de fogo que se aproximava rapidamente. Tão rápido que ele foi direito ao estábulo das vaquinhas e tentou fazê-las sair para irem embora. O fogo chegou e lambeu tudo à volta, tão depressa que os animais receosos não conseguiam sair. O fogo pegou pelo telhado e caiu dentro do estábulo.Tudo morreu num ápice.
Chora sim, amiga, que histórias como estas, e piores, neste momento tem centenas em Portugal.
Nós duas, minha amiga, amantes dos animais, choramos também por todos eles, inocentes neste drama.
A TV passou imagens de galinhas a passear dentro de capoeiras destruídas, ainda com pedaços em chamas, nas casas ardidas.
Animais espavoridos em fuga, ou calmos, na sua estupefacção dum meio ambiente destruído e, momentaneamente, adverso.
Histórias de animais selvagens, de caça? Os que escaparam, não sabem falar.
Colmeias enegrecidas, destruídas. Morte de colónias das maiores amigas do homem - incansáveis obreiras, as abelhas.
Chora Portugal, choro eu e choramos todos. Não sei se haverá quem não chore.
O fogo varre Portugal de norte a sul.
Arde desde anteontem a maior e mais linda Serra do n/Algarve - Monchique. Um paraíso de verdura e beleza.
O fogo aproxima-se perigosamente das vilas. Está a poucos metros.
Causador deste inferno da serra de Monchique? Diz a imprensa e a TV: - Um pastor de 18 anos.
Sinto-me como um repórter de guerra. Eles choram e sofrem mas transmitem o que observam.
Só que, por enquanto, não corro perigo, como esses repórteres.
O fogo tem andado aqui à volta, no meu concelho, mas passa longe.
Consumiu-se tudo que era o interior de Portugal. Só resta a orla costeira que foi poupada.
Amanhã respondo o resto desta sua mensagem.
Beijos da sua amiga
Laura
NOTA:
Estamos em Setembro de 2011 e, ainda ontem, a TV noticiava e mostrava as imagens tremendas de uma aldeia (Sabugueiro) em Vila Real – Trás-os-Montes, onde as casas ardiam porque junto a ela existe um enorme pinhal pertencente ao estado cuja limpeza nunca se fez. O fogo devorou tudo.
Palavras para quê, neste Portugal onde governo após governo tentam convencer-nos que pertencemos ao mundo civilizado?
Palavras para quê, neste Portugal onde um primeiro ministro afunda o país, descaradamente e às claras, e após as eleições continua a sua vida descansadamente, despudoradamente, sem ninguém que o acuse, apesar do espanto dos novos eleitos perante os imensos buracos financeiros?
Entretanto, circulam na Internet notícias de depósitos bem chorudas em paraísos fiscais, em nome de familiares dele.
Terão todos os políticos «o rabo preso»?
Que mais se pode pensar disto tudo, enquanto um país como a Islândia prende o seu primeiro ministro e o leva à barra dos tribunais por actos semelhantes?
Será este o meu país???????
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Laura Martins