Nem rei nem Lei, nem paz nem guerra,
Define como perfil e ser
Este fulgor baço da terra –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a hora!
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Fernando Pessoa (in Mensagem)
Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.
Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.
Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.
Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!
Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.
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António Aleixo
Incêndios fazem pensar / Nesta Terceira República:
Que nasceu pra libertar / Não só a palavra pública!!...
Triste me vejo, porém, / Quando penso em liberdade…
Naquela que o povo tem / Por só falar à vontade! …
Porque do falar ao fazer / Vai uma grande distância:
Entre o que será o ser / Apenas de circunstância!...
Assim a demagogia / Criou o seu território,
Fingindo democracia… / Distribuiu… ilusório!
E a gente julga que tem / A liberdade por ter…
Apenas o que convém / Que o vizinho possa ver!...
Por isso ardem as matas… / Vão ardendo a pouco e pouco…
Lá se vai o ouro e pratas / Na cabeça dalgum “louco”!
…Onde está a Agricultura? / Onde estás tu... Eminência?
Onde estará a estrutura / Que faz a sobrevivência?
Somos todos os culpados: / Sempre nós que somos povo…
Por deixarmos ser tratados / Por quem nada trás de novo!...
…E Portugal vai ardendo! / Vai ardendo com as leis…
Enquanto nós vamos tendo / A República de “Reis”!...
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MANUEL ALVES / Caldas da Rainha
(usando poemas dos autores abaixo citados,
alguém nos diverte assim:)
Bocage - Retrato da Sinistra
Baixa, de olhos ruins, amarelenta,
Usando só de raiva e de impostura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Um mar de fel, malvada e quezilenta
Arzinho confrangido que atormenta,
Sempre infeliz e de má catadura,
Mui perto de perder a compostura,
É cruel, mentirosa e rabugenta.
Rosto fechado, o gesto de fuinha,
Voz de lamento e ar de coitadinha,
Com pinta de raposa assustadinha,
É só veneno, a ditadorazinha.
Se não sabes quem é, dou-te uma pista:
Prepotente, mui gélida e sinistra,
Amarga, mui matreira e intriguista,
É muito autoritária... e é MINISTRA.
Camões - Soneto à sinistra
Alma mesquinha e vil, tu que pariste
As normas do estatuto do docente,
Não tens nada de humano, não és gente,
Nada mais que injustiças produziste.
Se lá nesse poleiro onde subiste
O estado do ensino tens presente,
Repara como és incompetente,
Como a classe docente destruíste.
Se pensas que esta gente está domada,
Te aceita a ti, ao Valter e ao Pedreira,
Estás perfeitamente equivocada:
Em breve encontraremos a maneira
De vos correr p'ra longe à cacetada,
Limpando a educação de tanta asneira.
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Artigo recebido via Internet, s/autoria
Há um Primeiro-Ministro que mente,
Mente de corpo e alma,
completa/mente.
E mente de modo tão pungente
Que a gente acha que ele, mente
sincera/mente,
Mas que mente,
sobretudo, impune/mente...
Indecente/mente.
E mente tão habitual/mente,
Que acha que, história afora,
enquanto mente,
Nos vai enganar eterna/mente...
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6/03/20010
Recebido via Internet s/autoria
?
Lembro de em fim de tarde ir sossegar Debaixo de um carvalho ancestral
Falava então comigo, e ao falar Só me saía um nome: Portugal!
Pode o nosso país nos deixar dor P'lo que fizeram dele à revelia
Dos seus dilectos filhos que em amor Mesmo os distantes lhe sofrem a agonia
E esses, inconformados e descrentes Vivem as mágoas de tantos irmãos
Que lá, por desditosos ou doentes Esperam em vão ajuda de outras mãos
E assim morre na praia toda a esperança Que nos foi impingida vão trint'anos
Inda temos bem viva na lembrança Toda essa verborreia só d'enganos
Mas talvez sejamos os culpados Ao nos deixar levar por tanta treta
Porque ao invés de castigar, irados Quem pôs o socialismo na gaveta
Mais votos lhes somamos, alienados
A todos os que deixaram esta pátria bem-amada e a sentem no sangue, como eu
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Eugénio de Sá
O que mais dói não é sofrer saudade
Do amor querido que se encontra ausente
Nem a lembrança que o coração sente
Dos belos sonhos da primeira idade.
Não é também a dura crueldade
Do falso amigo, quando engana a gente,
Nem os martírios de uma dor latente,
Quando a moléstia o nosso corpo invade.
O que mais dói e o peito nos oprime,
E nos revolta mais que o próprio crime,
Não é perder da posição um grau.
É ver os votos de um país inteiro,
Desde o praciano ao camponês roceiro, (original)
Do camponês ao patrão altaneiro (adaptação-Laura)
Para eleger um presidente mau. (original)
Para eleger um governo tão mau (adaptação-Laura)
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Patativa do Assaré (Brasil)
São piores que as aranhas, Gente sem credo, só manhas,
Que se baba nas ideias. Donde brotam finos fios,
Que urdem sem arrepios, Fabricando densas teias!
E como insectos caímos, Nas malhas que sugerimos,
Ao votar nos animais. Esqueceram as promessas,
Já não há beijos, conversas, Todos eles são iguais!
Da direita,... da esquerda, Mudam as moscas, a merda,
Tem sempre o mesmo perfume. São latrinas ambulantes,
Com diarreias constantes, São a trampa do costume!
Um passo à frente, outro atrás, Mas ninguém sabe o que faz,
Não conseguem acertar. Lembram recrutas na tropa,
Obedecendo à Europa, Marchando sem protestar!
Poucos deles trabalharam, Do povo sempre chuparam,
Sem nunca dobrar a mola. Mas num governo tirano,
Chupam até ao tutano, Porque já nada os consola!
Mas não tenham ilusões, Porque são todos anões,
Duendes na noite escura. São mentes sujas,... nocivas,
Com decisões abusivas, Em homens sem estatura!!!
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18/6/2002
Fernando dos Santos
(Escrito por Maiakovski, poeta russo falecido em 1930)
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm a ninguém é dado
repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo
e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão
Mas eu não sei,
porque não estou amedrontado.
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra
é uma ténue cortina lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade, procurando, num sorriso,
esconder minha dor diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
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Maiakovski